O século XXI deverá abandonar a ideia unilateral que define o ser humano pela racionalidade (Homo sapiens), pela técnica (Homo faber), pelas atividades utilitárias (Homo economicus), pelas necessidades obrigatórias (Homo prosaicus). O ser humano é complexo e traz em si, de modo bipolarizado, caracteres antagonistas:
Sapiens e demens (sábio e louco)
faber e ludens (trabalhador e lúdico)
empiricus e imaginarius (empírico e imaginário)
economicus e consumans (econômico e consumista)
prosaicus e poeticus (prosaico e poético)
Somos seres infantis, neuróticos, delirantes e também racionais. Tudo isto constitui o estofo propriamente humano.
O ser humano é um ser racional e irracional, capaz de medida e desmedida; sujeito de afetividade intensa e instável. Sorri, ri, chora, mas sabe também conhecer com objetividade; é sério e calculista, mas também ansioso, angustiado, gozador, ébrio, extático; é um ser de violência e de ternura, de amor e de ódio; é um ser invadido pelo imaginário e pode reconhecer o real, que é consciente da morte, mas não pode crer nela; que secreta o mito e a magia, mas também a ciência e a filosofia; que é possuído pelos deuses e pela Ideias, mas que duvida dos deuses e critica as Ideias; nutre-se dos conhecimentos comprovados, mas também de ilusões e quimeras. E quando, na ruptura de controles racionais, culturais, materiais, há confusão entre o objetivo e o subjetivo, entre o real e o imaginário, quando há hegemonia de ilusões, excesso desencadeado, então o Homem demens submete o Homo sapiens e subordina a inteligência racional a serviço de seus monstros.
**** Em sua proposta, Morin coloca que a educação do futuro deveria mostrar e ilustrar este Destino multifacetado do humano: o destino da espécie humana, o destino individual, o destino social, o destino histórico, todos entrelaçados e inseparáveis. Isto conduziria à tomada de conhecimento, por conseguinte, de consciência, da condição comum a todos os humanos e da muito rica e necessária diversidade dos indivíduos, dos povos, das culturas, sobre nosso enraizamento como cidadãos da Terra...
OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO, de EDGAR MORIN, deveria ser um livrinho de cabeceira dos PEDAGOGOS, para ser lido cotidianamente e aplicar pelo menos parte do seu conteúdo a seus ensinamentos práticos. Bem melhor, mais isento e profundo este autor que certo padreco brasileiro cultuado/endeusado aí academicamente - que até me concedo o direito de nem aqui nominar.
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