O que é a felicidade? Uma pergunta abrangente, de respostas relativas e inúmeras interpretações possíveis. O homem lançou para si esta questão ao longo dos séculos, almejando sempre uma forma de alcançar este estado de graça e absoluto contentamento. Mas como esta procura se moldou de acordo com os momentos vividos pela humanidade?
Em sua obra “A IDADE DE OURO – HISTÓRIA DA BUSCA DA FELICIDADE” (Editora Unesp, 472 páginas), o historiador GEORGES MINOIS apresenta um estudo sem precedentes, investiga, pelo viés da História, partindo desde a Antiguidade até o século XXI, a obstinada busca do ser humano pela felicidade.
Em reportagem de Larissa Roso (DONNA/ZH - 01/01/2012), Minois assim se manifesta:
Ø Quais são os grandes ideais de felicidade hoje e o que eles revelam sobre os valores do mundo ocidental?
– Devido ao triunfo global do capitalismo liberal e ao colapso das ideologias, tudo gira em torno da noção de aproveitar ao máximo o “aqui e agora”: um bom poder de comprar em uma sociedade livre, com o mínimo possível de restrições, evitando-se qualquer reflexão sobre o sentido da vida. O que as pessoas mais desejam é conforto material e diversão. Acima de tudo, sem reflexão, porque refletir é depressivo. Todos os governos do mundo, e também o setor privado da economia, encorajam isso, guiando o mundo na direção de uma regressão cultural vergonhosa: compre, divirta-se e seja feliz. Mas, acima de tudo, não pense.
Ø Nos acostumamos com lugares, posses, pessoas, situações. Quando isso acontece, perdemos a empolgação da novidade. Isso transforma a busca pela felicidade em uma corrida infindável?
– Sem dúvida. Isso explica por que Sócrates, de acordo com Platão, acreditava que nós jamais alcançaríamos a felicidade. A felicidade, de acordo com ele, é o que sentimos ao satisfazer nossos desejos, o que significa que ambos, desejo e satisfação, devem coexistir. Um desejo sem satisfação é doloroso, mas a satisfação mata o desejo, colocando fim à felicidade. A busca pela felicidade é a busca eterna por uma ilusão.
Ø O que o faz feliz?
– Não acredito na felicidade. Desisti de procurá-la. E provavelmente esse seja o motivo pelo qual eu não sinta a sua falta. Não sofremos por não possuir um conhecimento universal porque sabemos que não é possível alcançá-lo. O mesmo acontece com a felicidade. Tento ser realista e lúcido, o que significa que sou pessimista, mas valorizo, acima de tudo, a busca da verdade, não da felicidade. Pessimismo é realismo, e provavelmente o melhor modo de se contentar: o pessimista nunca se desaponta porque sempre espera o pior. Diria que sou um pessimista feliz.
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