O BARDO THÖDOL é uma obra que fala da concepção budista-tibetana sobre o post mortem. Ninguém sabe ao certo há quantos séculos o livro foi escrito. Não existem registros de sua origem, por tratar-se de uma tradição secreta e oral, passada de boca a ouvido ao longo do tempo. No entanto, acredita-se que o texto remonte a VIII d.C. Pela tradição tibetana, é um texto sagrado, escrito pelo monge Padma Sambhava, e encontrado 600 anos mais tarde por Karma Lingpa.
O Livro Tibetano dos Mortos foi trazido ao ocidente pelo Dr. W. Y. Evans-Wentz, que escreveu um livro no início do século XX (1927) traduzindo-o e explicando-o. JUNG, Carl Gustav escreveu prefácio de uma das edições do livro analisando seu conteúdo do ponto de vista psicológico. HUXLEY, Aldous e LEARY, Timothy – também estudiosos e propagadores desta obra. KARDEC e os TEOSOFISTAS, também aí consultaram e compilaram/adaptaram alguns dados a suas codificações.
Também chamado de O Livro dos Mortos Tibetano, a expressão "Bardo Thödol" é mais apropriadamente traduzida como "A Libertação Pelo Entendimento na Vida após a Morte".
"Bardo" é uma palavra composta: BAR significa "Entre" ― DO, significa "Dois".
Lama Samdup (1868-1923), que traduziu o texto para o inglês, definiu "Bardo" como "estado incerto", referindo-se à situação intermediária da Mônada ou espírito humano entre a vida biológica, orgânica, que chegou ao fim e o período que transcorre até o próximo renascimento. Os tibetanos e budistas são, portanto, reencarnacionistas, ou seja, acreditam na reencarnação.
A "Libertação" mencionada no Bardo Thödol relaciona-se ao fim do ciclo de reencarnações produzidas pelo carma, pelos sentimentos de culpa, pelo apego à vida. É a libertação da "roda samsárica" que obriga o espírito a renascer em uma das seis categorias de mundos inferiores.
De certa forma, o Bardo Thödol é o conhecimento que permite ao espírito transcender a lei do carma, pelo entendimento do fenômeno da vida em sua TOTALIDADE CONTÍNUA. Um entendimento que permite superar a forte cadeia que prende o ser humano [em todas as suas manifestações] a uma existência de sofrimento: a cadeia formada pelo binômio DESEJO-CULPA.
Diz a sabedoria popular que "a única certeza da vida é a morte". Com efeito, todo ser humano, às vezes na mais tenra idade, fica sabendo que, inevitavelmente, em um momento qualquer do futuro "a hora chega", a morte virá. Tal como existem várias formas de viver, também existem várias formas de morrer.
A morte "natural", consequência de doenças que provocam a falência funcional do corpo físico e as mortes "provocadas", por assassinato, suicídio ou acidentes. Em qualquer desses casos morrer pode ser um acontecimento súbito (rápido, de um instante para outro) ou lento. A morte lenta envolve a experiência da agonia, processo gradual durante o qual o princípio vital vai, aos poucos, abandonando o organismo.
O conhecimento do Bardo Thödol é aplicável a qualquer caso, porém, no caso de morte lenta, cuja agonia pode durar horas ou dias, o livro fornece instruções que permitem ao moribundo e/ou aos circundantes reconhecer os sintomas de que se aproxima o momento do último suspiro.
São estas, em geral, “as três primeiras evidências da chegada da morte”:
1ª) Sensação física de descompressão ("a terra se desfazendo em água");
2ª) Sensação de frio, com a impressão de que o corpo está imerso em água, a qual se transforma gradualmente num calor febril ("a água se desfazendo em ar");
3ª) Sensação de explosão dos átomos do corpo ("o fogo se desfazendo em ar").
Cada sintoma corresponde à determinada alteração do corpo, exterior e visível: ausência de controle dos músculos do rosto; perda de audição; perda da visão; respiração espasmódica, antes da perda final da consciência. [SAMDUP, 2003 - p 65]
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