"QUANDO O MUNDO SE TORNAR CONFUSO, ME CONCENTRAREI EM FOTOGRAFIAS, QUANDO AS IMAGENS SE TORNAREM INADEQUADAS, ME CONTENTAREI COM O SILÊNCIO." [Ansel Adams / 1902-1984]

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14 dezembro 2010

MAR ADENTRO, "um grande filme sobre Eutanásia"










Mergulhado em pesquisas do meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Direito, com tema “Eutanásia, Ortotanásia e Distanásia – uma nova visão”, estive vendo este “excelente filme” aqui comentado.
MAR ADENTRO
Direção: Alejandro Amenábar
Espanha - 2004

Elogios ao filme MAR ADENTRO, dirigido por Alejandro Amenábar, não são exagerados. A obra recebeu 14 prêmios Goya, dois prêmios no European Film Awards, um Grande Prêmio do Júri e um Volpi Cup de melhor ator para Javier Bardem, que interpreta o protagonista. E a lista de premiações não acaba aí, recebeu um Oscar, um Globo de Ouro e um Independet Spirit Award, todos os três na categoria de melhor filme estrangeiro.
A história deste filme convida o espectador a uma longa reflexão. Amenábar poderia ter descambado para o dramalhão sentimental, mas conseguiu realizar um filme surpreendentemente tocante sobre um tema polêmico. Um filme triste e muito bonito.
Mar Adentro conta a história verídica de Ramón Sampedro (interpretado magnificamente por Javier Bardem),um espanhol que ficou tetraplégico após um mergulho aos 25 anos, e viveu 29 anos após o acidente sendo cuidado por seus familiares e lutando pelo direito de “morrer dignamente”, como ele mesmo dizia. Seu caso foi levado aos tribunais em 1993 para conseguir a legalidade da eutanásia, mas o pedido foi negado. Na “carta de Sampedro” destinada aos juízes, em 13 de novembro de 1996, desdobra-se uma idéia que aparece repetidas vezes no filme: “viver é um direito, não uma obrigação”. Assim, Ramón coloca em cheque a regulação da vida e da morte pelo Estado e pela Igreja e acusa “a hipocrisia do Estado laico diante da moral religiosa”.
O debate com a igreja sobre eutanásia aparece no filme na figura de um padre, também tetraplégico, que resolve visitar Sampedro. Como a escada para o segundo andar, aonde se encontra o protagonista, é muito estreita, e não permite que passe a cadeira de rodas do padre, os dois comunicam-se via um seminarista, que corre de um lado a outro dando recados com uma expressão tensa, ansiosa e confusa, como se estivesse prestes a submergir numa profunda crise existencial e religiosa. Até que o padre e Sampedro passam a conversar aos berros e sem mediação, de um lado falando-se da importância de manter a vida, de outro, denunciando-se que a Igreja Católica não tem moral para falar de respeito à vida depois da Inquisição.
O personagem de oposição direta ao padre é a advogada Julia, que quer cuidar do caso de Sampedro. Se por um lado o padre, pelo seu estado físico e representando a Igreja, parece ter legitimidade para tentar dissuadir o protagonista da idéia de eutanásia, a advogada Júlia, portadora de uma doença degenerativa hereditária (Cadasil), que se caracteriza por acidentes vasculares recorrentes que conduzem à invalidez e demência, procura trazer a discussão e a legitimação do caso para o plano racional, individual e não dogmático. Ao mesmo tempo, Júlia também é o canal entre o espectador e as poesias, as viagens e toda a vida de Sampedro antes do acidente. Juntos escrevem um livro, partilham um cigarro, trocam um beijo, afeto, impossibilidades, desejos, frustrações e a morte como finalidade.
É nesses percursos que Mar Adentro consegue trazer à tona os vários nós da questão. Momentos tensos, de debate, momentos de ternura e da impossibilidade do contato físico, a dor da família de Sampedro, mas também a do protagonista. Quando em 1998, Ramón consegue encontrar, na figura da personagem Rosa, “alguém que realmente o ame e o ajude a morrer”, ele deixa um testamento concluindo o argumento da vida como obrigação, e aliando a ela um debate que sinaliza as tensões e as questões de poder que permeiam a vida e a morte: “Srs. jueces, negar la propiedad privada de nuestro propio ser es la más grande de las mentiras culturales. Para una cultura que sacraliza la propiedad privada de las cosas – entre ellas la tierra y el agua – es una aberración negar la propiedad más privada de todas, nuestra Patria y Reino personal. Nuestro cuerpo, vida y conciencia. Nuestro Universo".
A questão da eutanásia destacou-se não apenas pelo sucesso de Mar Adentro e do filme norte-americano Menina de Ouro (que trata do mesmo tema), mas também porque, enquanto os dois concorriam ao Oscar, se desenrolava o caso da norte-americana Terri Schiavo, que morreu após decisão judicial para que fosse suspensa a alimentação artificial que a mantinha viva há 15 anos. A ampla discussão que se deu desde então deixou claro que, com exceção de países como Holanda e Bélgica, que aprovaram leis de eutanásia, esta é praticada de forma ilegal, mas recorrente, em vários hospitais do mundo. No auge da repercussão do caso levou o já convalescente papa João Paulo II, que sofria de uma doença degenerativa incurável, a divulgar uma comunicação para mobilizar a opinião pública contra a eutanásia.
No início de 2005, Ramona Maniero confessou ter ajudado Sampedro a tomar cianureto para morrer, com ajuda de 12 pessoas de uma associação pró-eutanásia (Associação Direito a Morrer Dignamente (DMD), de Barcelona). Ramona admitiu ante as câmeras do canal Telecinco que havia sido a última da cadeia.   A confissão veio depois de sete anos do ocorrido, quando o delito já estava prescrito e ela não poderia mais ser julgada. Ramona era considerada a principal suspeita da morte de Sampedro e chegou a ser presa, mas foi solta por falta de provas. Ramon Sampedro morreu em 12 de janeiro de 1998.

Difícil dizer se ele estava certo, pois não dá para imaginar, de nenhuma forma, o que é passar 28 anos preso a uma cama, sem poder se mexer, completamente dependente de outras pessoas, e tendo a cabeça totalmente lúcida. Porém, se do lado de Rámon estava um homem que se julgava condenado a viver todos os seus dias deitado em uma cama, do outro fica a família que o ama, os amigos que o admiram, pessoas que não desejam que ele "parta" para outra vida, e que sofrem horrores com sua escolha.
Mais do que uma defesa à eutanásia, porém, Mar Adentro se apega no direito que cada pessoa tem de ser livre, e fazer o que quiser com sua própria vida, para demonstrar que Sampedro se apoiava no pensamento de que viver era um direito, não uma obrigação. E ele queria renegar esse direito, devido às suas condições.

              [compilação de textos de Marta Kanashiro e Marcelo Costa]


Ramón escreveu este livro aqui abaixo, “Cartas Desde El Infierno” e também outro: “Cuando Yo Caiga”.


Biografias Planeta – Editora Planeta
Cartas do Inferno, de Ramón Sampedro
Páginas: 280 páginas
Publicação: Maio 2005
Preço: R$ 39.90
  

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