Este livro complementa e conclui a análise realizada pelo autor em 'Globalização - as consequências humanas' e 'Em Busca da Política'. Juntos, esses três volumes formam uma análise das condições cambiantes da vida social e política.
Em “Modernidade Líquida”, Bauman afirma que, há cerca de cinquenta anos, as previsões populares sobre o futuro travavam-se pelo confronto da visão de Aldous Huxley, em “Admirável Mundo Novo” e a de George Orwell, no livro “1984”. O primeiro escritor retratou, em 1931, um cenário do século VII d.F. (depois de Ford), habitado por uma sociedade completamente organizada e feliz, vivendo na opulência, devassidão e saciedade. George Orwell, por sua vez, apresentou, em 1949, a ideia de uma sociedade futurista, tomada pela miséria e pela escassez, e dominada por um governo totalitário.
Completamente antagônicas, as duas visões estavam de acordo num ponto: no pressentimento de uma civilização estritamente controlada. A de Huxley, mediante doses regulares de felicidade quimicamente transmitida pelo “Soma” (a droga do futuro) e pelas ideologias propagadas em cursos noturnos, ministrados durante o sono; a de Orwell, pelo Grande Irmão (Big Brother). Isto porque, a exemplo de Platão e Aristóteles, incapazes de imaginar uma sociedade sem escravos, Huxley e Orwell não podiam concebê-la sem uma oligarquia de poder que estabelecesse parâmetros, rotinas e ordens a serem seguidas pelo resto da humanidade.
Analisando essa sociedade de controle, o filósofo francês Gilles Deleuze , prognosticou a relação entre a identidade pessoal e um código intransferível (cifra). Os indivíduos, segundo Deleuze, sofreriam uma espécie de divisão resultante do estado de sua senha, ora aceita, ora recusada. As massas, por sua vez, tornar-se-iam simples amostras, dados, mercados que precisam ser rastreados, cartografados e analisados.
O que poderia ser considerado como uma ideia visionária de Deleuze, ou como mera ficção científica de Huxley e Orwell, é hoje uma realidade. O controle importa no estabelecimento de valores pela elite dominante, diz Bauman.
A “época em que vivemos” é apontada pela maioria dos autores nacionais e internacionais, como a era das incertezas, das fragmentações, das desconstruções, da busca de valores, do vazio, do niilismo, do imediatismo, do hedonismo, da substituição da ética pela estética, do narcisismo e do consumo de sensações. Nesse contexto, os indivíduos tendem a sentirem-se confusos diante da velocidade com que o seu mundo se modifica, tornando nebulosa sua própria inserção nesse mundo. Em tempos dominados pela mídia e em constante mutação, as possibilidades parecem infinitas, mas acarretam a angustiosa sensação de insegurança e de incerteza do inacabado.
Consumir representa então o elixir contra a incerteza aguda e enervante sobre o porvir e o sentimento de incômoda insegurança. Propagou-se um comportamento geral de comprar, não apenas produtos e serviços, mas também as habilidades necessárias ao nosso sustento, o tipo de imagem que desejamos para nós, os métodos de convencimento de nossos possíveis empregadores, etc.
O cenário retratado pelo texto de Zygmunt Bauman é contemporâneo, expondo relevantes impactos introduzidos pela sua denominada “Modernidade Líquida”.
Essa sociedade moderna tem como ícones principais a produção e o consumo, não como meios, mas como finalidades a serem atingidas.
O individualismo (satisfação dos desejos pessoais) tem uma posição peculiar dentro do sistema em que se encontra inserido, qual seja, o do consumo desenfreado, não apenas como satisfação de seu querer, mas, também, para a construção de uma imagem social.
FONTE: Modernidade Líquida: análise sobre o consumismo e seus impactos na Sociedade da Informação [Christiany Pegorari Conte, Encarnacion Alfonso Lor e Fábio Antônio Martignoni – advogados e mestrandos em Direito da Sociedade de Informação pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas]
Íntegra disponível em:
http://www2.oabsp.org.br/asp/comissoes/sociedade_informacao/artigos/modernidade_liquida.pdf
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